Membros do Discord estão apreensivos. Com rumores de que a empresa de mídia social planeja uma oferta pública inicial este ano e está dependendo cada vez mais de receita publicitária, há o temor de que o Discord seja engolido pela “enshittification” (degradação de plataformas) que já prejudicou tantas comunidades online. O cofundador e CTO Stanislav Vishnevskiy afirma que também está preocupado com isso.
Em uma entrevista ao Engadget publicada hoje, Vishnevskiy disse que os funcionários do Discord discutem regularmente preocupações sobre a plataforma se desviar de seu propósito e irritar os usuários.
“Entendo a ansiedade e a preocupação”, disse Vishnevskiy. “Acho que as coisas que as pessoas temem são o que separa uma grande empresa focada no longo prazo de qualquer outra empresa.”
Mas há motivos para os usuários antigos do Discord se preocuparem com a piora da plataforma nos próximos anos. O mais óbvio é a incursão do Discord em anúncios, algo que a empresa evitava desde seu lançamento em 2015. O Discord começou a exibir anúncios em março de 2024 em seus aplicativos para desktop e console. Desde então, introduziu anúncios em vídeo no app móvel e lançou os “Orbs”, que usuários podem ganhar ao clicar em anúncios e trocar por recompensas em jogos. O Discord também recentemente afirmou que planeja vender anúncios para mais empresas.
Alimentando expectativas de que o Discord logo se tornará público e mudará no futuro, o cofundador e CEO Jason Citron deixou a empresa em abril. Seu substituto, Humam Sakhnini, tem experiência em liderar empresas públicas, como a Activision Blizzard. Quando Citron anunciou sua saída em abril, o GamesBeat perguntou se o Discord iria abrir capital. Citron afirmou que não havia “planos específicos”, mas acrescentou que “contratar alguém como Humam é um passo nessa direção”. Vishnevskiy se recusou a comentar sobre um possível IPO do Discord durante a entrevista ao Engadget.
No entanto, em meio a mudanças atuais e iminentes, Vishnevskiy afirma estar atento ao risco de “enshittification” do Discord, dizendo ao Engadget:
Definitivamente sou eu quem sempre levanta a questão da ‘enshittification’ [nas reuniões internas]. Não é ruim construir um negócio sólido e monetizar um produto. É assim que podemos reinvestir e continuar melhorando as coisas. Mas temos que ser extremamente cuidadosos em como fazemos isso.
O Discord já abandonou más ideias antes
Para alguns, a inclusão de anúncios já é “enshittification” automática. No entanto, atualmente, os anúncios no Discord são pouco intrusivos. Eles aparecem em barras laterais que só expandem se clicadas e podem gerar recompensas aos usuários.
Outra esperança para o Discord vem de seu histórico de recuar diante de mudanças impopulares entre os usuários.
Por exemplo, em 2021, a empresa voltou atrás em planos de integrar carteiras de criptomoedas, ideia proposta pelo então CEO Citron.
“Era uma forma de permitir que as pessoas usassem o Discord de certa maneira, mas isso trouxe muitos problemas”, disse Vishnevskiy ao Engadget. “Tentávamos limitar golpes e proteger os usuários, mas subestimamos a sensibilidade do público em relação a NFTs e não explicamos bem nosso objetivo.”
Em setembro de 2019, o Discord fechou sua loja de jogos, lançada em outubro de 2018. Um post no blog da empresa explicou que “a maioria dos assinantes do Nitro não jogava” os títulos oferecidos.
“Passamos um ano construindo essa parte do negócio e, francamente, logo percebemos que não estava dando certo”, disse Vishnevskiy.
Segundo ele, experiências como essas reforçaram o foco do Discord em jogos, e a empresa planeja priorizar iniciativas ligadas a esse universo, como assinaturas do Nitro. O executivo também mencionou que a empresa abandonou recursos de IA que “não funcionaram bem” e desativou o Clyde, um chatbot baseado em modelos da OpenAI.
Vishnevskiy argumenta que a publicidade no Discord tem conexão com jogos, citando os Orbs como um exemplo que beneficia tanto jogadores quanto desenvolvedores.
Ainda não acredita que o Discord evitará a “enshittification”? Para alimentar o pensamento positivo, aqui estão três exemplos de empresas de tecnologia que provam que a “des-degradação” ainda é possível.